
Dia das Mães
Quando nasce um filho, nasce uma mãe.
Quando essa mulher já é mãe, nasce uma mulher que deve aprender a dividir, ou melhor ainda, multiplicar o amor. Será possível amar dois seres diferentes com o mesmo amor, a mesma dedicação, mesmo quando as personalidades são tão diferentes? Será possível amar um outro ser, fazer uma mitose do amor de mãe, para um segundo, (terceiro ou quantos nascerem…) quando o amor integral e único nasceu para apenas a primeira gestação?
Conheço todo tipo de amor de mãe! Todos imperfeitos, por mais amorosos que sejam.
O amor que não vinga, o amor que brota mas morre, o amor corajoso que abre mão de amar se for o melhor, o amor que transborda, o amor que não divide, o amor interesseiro, o amor que agrega, o amor mitose, o amor que teme fazer diferença (mas acaba fazendo mesmo assim), o amor sem cobranças, o amor com delírio de posse, o amor que resiste se tudo seguir da forma desejada, o amor que abandona para acolher outro amor, o amor que não despertou, o amor que morreu de amor, o amor que morreu para salvar o amor, o amor que existe mas nem sabe que existe, o amor travestido de orgulho… e existem tantos outros que não me lembro ou que desconheço…
Ser mãe não é fácil. Parece romântico, principalmente se pensarmos apenas no amor, que realmente é delicioso, e no instinto de proteger, cuidar e ser amada de volta (ao menos no inicio).
Mas como ninguém vive de amor, ser mãe é arregaçar as mangas. É passar noites mal dormidas, é quase ser selvagem e se partir por dentro por cada dor, lágrima ou sofrimento de um filho, ou quiçá querer atacar quem causou o mal. Ser mãe é se anular, é parar a vida no tempo para dar vez, espaço e pernas para os filhos, a não ser quando as babás ocupam o espaço da mãe que se recusou a parar a vida ou que não teve escolha, e está tudo bem em todos os casos. Nenhuma mãe é igual a outra, nem um filho é igual ao outro.
Ninguém é comparável Pois somos todos únicos e cada combinação gera uma solução diversa!
Triste, do meu ponto de vista, são as mães que excluem e abandonam seus filhos. Não para a adoção, essas em geral são corajosas, entendem que não podem dar o melhor e querem o melhor para um filho. Falo das mães que ficam com seus filhos, mas não aceitam quem eles são, como eles são, e escolhem torturá-los (como um filho pode ser diferente do que eu esperava? Ele me agride e eu não aceito, quero moldá-lo) ou escolhem afastá-los. Embora afastar seja o gesto mais saudável possível, não deixa de ser de alguma forma triste. Bom, talvez não para todos! Alguns filhos preferem a distância e o sossego. Mas outros sofrem, querendo se sentir aceitos pelo que são e podem precisar de terapia para vencer essa carência da criança interior.
Tem mãe que salva, tem mãe que morre pelo filho e tem mãe que mata um filho lentamente com suas críticas e suas ações de reprovação.
Tem mãe que não conseguiu ser mãe e virou tia. A melhor de todas! De certa forma, o melhor papel, pois só mima e curte e não precisa necessariamente ser educadora. Sorte de todo sobrinho que tem uma tia assim!
Tem mãe que é mãe em dobro. É avó mas com funções de mãe. Tem avó que é mãe ausente e vó ausente. Tem avó que foi mãe dura mas é avó macia, e que briga com os filhos para defender os netos. Tem avó que só quer ser avó, de passagem. Tem avó que morre pelos netos. Tem avó que tem ciúmes da outra avó e por isso não se torna a melhor avó, para não competir. Tem mãe que tem tanto amor, que ama em dobro os filhos quando se torna avó. Tem mãe que sabe dos desafios quando chega um bebê e quer deixar a vida da filha mais suave para não passar pelo que ela mesma passou. Avós são mães antes de serem avós. São diversas também!
Quando meu filho nasceu, teve que ser cesária, ele se tornou a estrela principal no momento. O público do parto seguiu o bebê (por necessidade ou vontade). Minha mãe não saiu da janela enquanto não acabei de ser costurada. A mãe normalmente quer garantir que a filha vai ficar bem após o parto.
Minha mãe foi superprotetora, às vezes sufocantemente protetora. Mas minha mãe nunca me deixou no chão. Sempre que eu caí ela estava lá para me dar a mão e para dizer que ela sempre estaria lá. Ainda hoje tenho seu colo e nem sei imaginar o que seria viver sem ter minha mãe ao meu lado. Não imagino! Mesmo na minha imaginação ela está sempre ao meu lado.
Claramente ela não foi perfeita. Eu não sou perfeita! Aliás, ninguém é! Mas é um privilégio ser filha de uma mulher que acolhe. Acolhe a diversidade, doa amor, doa afeto, inclusive através da comida, doa conforto, doa sonhos, doa e doa e doa. Claro que ela recebe também! Amo amar a minha mãe!
Também amo ser mãe. E, por minha vez, sufocar o meu filho. Acho que repetimos muito do que aprendemos, não? Ele reclama às vezes, mas eu encerro a conversa dizendo que não sei ser de outra forma. Amo tanto, mas tanto, que me dói. Às vezes queria pegar o meu filho nas mãos e guardá-lo no meu coração, protegido!
Eu sei que não posso, nem se fosse possível. Ele precisa da jornada dele. Ele precisa andar sozinho, caminhar e cair, se levantar e cair, pois isso faz parte do crescimento e amadurecimento. Mas eu estarei sempre ao seu lado, estendendo a minha mão, levantando-o e apoiando-o. Ele nunca estará sozinho e isso me enche de alegria no peito pois eu sei que sou eu e o pai dele, que iremos amá-lo e pretegê-lo para sempre e isso me completa!
Nem toda mulher nasceu para ser mãe, o que está tudo ótimo. Ninguém tem que seguir uma fórmula e fazer a mesma jornada da maioria. Acho triste não querer ser mãe e decidir ser, para caber na expectativa dos outros e não ser capaz de doar o seu melhor para um filho.
Também acho triste toda mãe que não é generosa consigo própria. Somos humanas, vamos errar e essa condição já estava prevista na cláusula da vida, desde o principal. Sim, é possível machucar sem querer um filho, de formas diversas. E está tudo bem. Basta fazer o melhor para reverter qualquer estrago. Mamães, não se culpem, vamos errar mesmo querendo acertar!
Só não está tudo bem quando o coração da mãe é tão amargo que ela acha que está tudo bem causar dor para um filho ou quando ela permite abusos morais ou físicos com sua cria. Aí, essa mãe precisa de terapia e em alguns casos, até de cadeia!
Minha mãe sempre me disse que: “ser mãe é padecer no paraíso”. A maternidade é exatamente assim. São tantas as alegrias e as dores. Mas filho não é propriedade! Filho é sopro que deve ser treinado para voar e ser livre, assim como nós quisemos nossas asas! E se amarramos demais, quando partimos, o que sobra de um filho manco, sem mãe e sem asas? É preciso coragem para escolher ser uma boa mãe, o melhor possível dentro da limitação humana.
Sejamos hoje e sempre nosso melhor!
Feliz todo dia das mães!