
Artista, brasileira e guerreira
Timothée Chalamet confessou em uma entrevista que se sentiu realmente um ator quando ele começou a poder pagar seu aluguel com seu salário (segundo o canal francês Brut).
Será que o retorno financeiro é uma questão de validação para todo mundo, em qualquer profissão? Ou será que é uma angústia mais presente na vida dos artistas?
Por muitas gerações observo que, sempre pensando no bem e no não sofrimento futuro dos filhos, muitos pais estimulam seus filhos de alma artística a seguirem um profissão “monetariamente rentável”, paralelamente ou não, ao movimento artístico natural.
Desde cedo plantando no inconsciente ideias de insegurança, como a necessidade de ter uma “carta na manga” quando tudo der errado.
E não são apenas os pais… Há um pré-julgamento da sociedade para com o artista, principalmente no Brasil, onde não temos estruturas que valorizem e acolham os artistas.
Quando o pior cenário é plantado dentro das pessoas, alguns irão insistir à despeito de tudo, outros irão vacilar e outros irão buscar uma caminho mais seguro e segui na arte apenas como um hobby. O resultado será sempre uma incógnita.
Eu cheguei num momento da minha vida de buscar autoconhecimento e me libertar de tudo que não me serve mais.
O que encontro quando olho para dentro de mim é muita castração (e autocastração) quanto ao que eu poderia ter sido (se tivesse tido ferramentas) e o que sobra de tempo para o que ainda posso ser (agora que tenho ferramentas).
Eu encontro em mim mesma uma mãe super leoa, absolutamente apaixonada por meu filho, defensora dele e de toda minoria, que de alguma forma está abrindo caminho neste mundo ainda cheio de maus conceitos.
Mas isso é só uma parte de mim. A mais linda, eu acho, pois eu sou uma pessoa melhor por causa dele. Não por causa de seu diagnóstico de TEA, mas por causa de sua alma incrível, de sua personalidade única e de sua doçura.
Só que, de repente, ele cresceu e, apesar de manter a minha voz alta, ele não precisa tanto mais dos meus dentes. Ele tem voz e ele tem dentes, agora ele sabe se defender!
Isso abriu espaço para me olhar além da maternidade (atípica). E quando olho no espelho é com minha alma artística que me deparo. Já fui bailarina clássica, fiz sapateado e dança flamenca, fui fotógrafa, atriz e rabiscava meus poemas desde menina, . Tudo isso ainda se encontra dentro mim, mesmo que de forma latente. Agora sou escritora, poeta, letrista, ilustradora, estudante de canto e aquarela… Ass palavras me encantam tanto quanto as imagens, as cores, os sons e os movimentos.
Sou artista, brasileira e guerreira, pois sigo adiante a despeito de todos os obstáculos, respeitando quem eu sou!
E, como uma criança, me empolgo com toda oportunidade de fazer arte, de criar, de me sentir tão livre quanto o vento, de me libertar de todas as amarras, pré-julgamentos e pré-conceitos.
Para não perder a minha essência e manter essa energia que faz com que eu me sinta viva, iluminada, não canso de estudar e aprender, e ouso me transformar, me aceitar, a despeito dos julgamentos, das nuvens negras que trazem a chuva do fracasso certo e da vida miserável para o artista.
Miséria e sucesso existe em qualquer profissão!
Cobrança, autocobrança e medo do fracasso (ou do sucesso) também!
Já deixei os meus pesos pelo caminho.
Agora, sou eu mesma meu ar rarefeito.
Imagem: Terceiro estudo monocromático em aquarela – Helena DeLuca 18 Março 2024